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A mostrar mensagens de março, 2005

Do acto recriativo [V - diversão]

A propósito, como é que se diz e, já agora, escreve Paizinho em russo?

Soft core [II]

Dado que estou com a mão na massa , mais três do género. A primeira, porque está na ordem do dia nacional. A segunda, porque deverá estar na pequena agenda de todos os dias. Nunca invocar o nome do Senhor em vão. A terceira, porque sim, e porque fica mais ou menos a meio caminho. Além disso, é giro não passar da letra b, apesar da palavra abecedário dar pistas suficientes. The art of driving, Black Box Recorder God only knows, Beach Boys Nook and Cranny, Biosphere

Soft core [I]

Para que não digam que aqui é tudo muito complicadinho, começa hoje uma nova série de cariz musical intitulada soft core , dedicada a Baco e a todos os canhotos e canhotas. Sweet Jane , Cowboy Junkies

História cruzada

O que está a ouvir em fundo. A policeman is walking... Christopher Logue reads New Numbers

Do acto criativo [propriamente fala(n)do]

The Creative Act ¹ (1957), Marcel Duchamp. ¹A paper presented to the Convention of the American Federation of the Arts at Houston, Texas, 1957.

Etnografia

Ouçam e pasmem. Circuladô de fulô , Galáxias , Haroldo de Campos Versão de Caetano Veloso

Do acto recriativo [IV - anátema]

A única contrariedade é que não se livra da fama de ovelha ranhosa da família.

Do acto recriativo [III - tresmalhe]

Se alguém vir o Diabo por aí, por favor diga-lhe que o Pai Nosso há muito tempo que não está zangado com ele e que pode voltar para casa sem receio de ser castigado.

Do acto recriativo [II - anelo de adulto]

Dado que é tudo meu e pontifico sem prestar terço a ninguém, consagrar-me, com toda a compenetração, autoridade e estampa, à heresia particularista (para os mais distraídos, já comecei a missão há algum tempo). Tudo com material reciclado, e valendo-me de todos os recursos linguísticos disponíveis, parábolas, elipses e por aí afora. Nunca descurando a bênção de Deus, claro está. Sejamos canónicos. Isto também é, afinal de contas, obra do Senhor.

For the road and the dance floor

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Now, for something completely different, but great fun. Two songs from the provocative... The pleasure principal and Summer luv , Lesbians on ecstasy Lesbians on ecstasy ¹ ¹Lesbians on Ecstasy hijack the back catalogue of popular lesbian anthems, dragging them kicking and screaming out of the folk festivals and onto the drugged-up revelry of the dance floor. They pillage shamelessly from the likes of Tracy Chapman and Melissa Etheridge, juxtaposing them against Tribe8, Team Dresch, Indigo Girls and other lesbian classics. Lebsians on Ecstasy don't sample these artists, but cheekily reference their themes and lyrics, creating booty shaking dance hits that maintain a politically infused edge.

Da série, Música electrónica (experimental) [II]

Apresento hoje um dos nomes incontornáveis da cena electrónica de vanguarda: Daniel Menche. Untitled track 1 , Eye on the Steel Daniel Menche¹ ¹ Daniel Menche’s work originates from the idea that music can be created without instruments. Ideas, concepts, and focused vision all serve as source materials — and there is no restriction to the potential sound sources. Works stem from “somatic” sounds, relying on the body - heart, skin, lungs, larynx, to natural field recordings, relying on wind, animals, insects, water, fire, and stones, etc; from crude, lo-fi, and primitive electronics, broken microphones, damaged speakers, antique audio equipment, to, at times, mangled drones from instruments such as accordions, melodicas, organs, and bass guitars with heavy gauged strings. Although this is electronic music, synthesizers have never played any part in his work. Here, the living elements are foregrounded, not the technical or electronic elements, that go into music making - organic sound so

Da série, Frases que impõem respeito [XI] [revisitação temática]

É a falar que a gente se entende com quem não deve. Almada Negreiros

Da série A triste sina… [XIV] do recém-nascido

Soltar gases como gente grande.

Do acto criativo [ultima ratio]

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John Baldessari, Horizontal men , 1984.

Carta Constitucional do bombyx mori

Under the greenwood tree Who loves to lie with me, And turn his merry note Unto the sweet bird’s throat, Come hither, come hither, come hither: Here shall he see No enemy But winter and rough weather. William Shakespeare, As You Like It .

Infanta de encomenda

A bela Seresma nasceu nem nos idos da Segunda Guerra Mundial, tão comprida e cor-de-rosa, que a mãe, de humor seráfico, mandou de recado ao pai, embarcadiço de dois galões a bordo incerto, o seguinte telegrama: QUASE METRO MINHOCA STOP PARTO FÁCIL STOP SALVO COTOVELO ENTALADO APRESENTAÇÃO NÁDEGAS DEDO NO BOCA STOP EXPRESSIVA PENSATIVA DORMIDEIRA STOP SEGUE CARTA. Não esmoreceu o pai naquele vem que não vem de torpedos tresmalhados ou findoiros da neutralidade do vaso de guerra. Se cumpria assim longilínea linhagem. Que se chamasse Rosa Aurora, o anelídeo, volveu ao telegrafista. Estavam muito ao Sul Boreal. Nada de pasmar. Pasmada era a menina. Sonsa no já de mama, muito sisuda na gula. Não mamava se não de furo de tetina alargado e, então, muito. Esforço, nada. Maria Velho da Costa, O assassinato da bela seresma, Dores

Agradecimento

Mal refeito de ter chegado esgotado à praia , há logo um marujo a levar-me ao colo e a paparicar-me . Será que sou malandro mesmo? Sentido obrigado.

Da série, Música electrónica (experimental) [I]

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Vale bem a pena ouvir Mitchell Akiyama. Talvez o meu favorito. Interpretation. deflection. master , Hope That Lines Don't Cross , Mitchell Akiyama ¹ ¹born in toronto, based in montreal, mitchell akiyama has been carving a niche for himself as one of the premier avant-garde electronic artists in canada. Originally trained in classical music and jazz on piano and guitar, he began composing electronic music in 1995.

Chelsea reverie revisited

É claro que, ensimesmando na lyrics , tenho as mais sérias e fundadas dúvidas de que a reverie prossiga. É mais de ficar mergulhado nas trevas (entrevado). Olhem, revertam como entenderem. E se alguém por aí conhecer o Mourinho de Setúbal, não me oponho a que lhe faça chegar isto. Chelsea Girls , Lou Reed, Sterling Morrison Here's Room 506 It's enough to make you sick Bridget's all wrapped up in foil You wonder if she can uncoil. Here they come now See them run now Here they come now Chelsea Girls Here's Room 115 Filled with S & M queens Magic marker row You wonder just high they go. Here they come now See them run now Here they come now Chelsea Girls Here's Pope dear Ondine Rona's treated him so mean She wants another scene She wants to be a human being. Here they come now See them run now Here they come now Chelsea Girls Pepper she's having fun She thinks she's some man's son Her perfect love's don't last Her future died in someone'

Chelsea reverie

Entre estes três moços bem formados, andam aí os prolegómenos de uma controvérsia rasgadinha e a prometer sobreaquecer rapidamente em torno do Mourinho. Não digo que não venha a participar, até porque me parece estar por enquanto demasiado polarizada no homem, ou melhor: nas suas capacidades e idiossincrasias pessoais. Entendo que o quadro de discussão que aí se estriba – o engenho técnico (metodológico, psicológico) versus a torpidade moral e cívica (o arrivista, sem escrúpulos, que não olha a meios para atingir os seus fins) – não é o mais fértil. Com a devida ressalva, traz à ideia o formato dicotómico (mais rigorosamente: antinómico) – génio musical versus homem imaturo – de interpretação da figura trágica de Mozart que Norbert Elias tão bem soube desmontar. Deixarei este assunto a marinar. Francamente, vidrar-me hoje em matérias que apontam a coxas três volumes , não obrigado. Hoje estou mais virado para Chelsea mesmo.

Da série, Frases que impõem respeito [X]

[Nome da criança, dependente e carga ou outras figuras subalternas]!!! O que é isto?!

Da série A triste sina… [XIII] do empregado de escritório

Enviar e-mails à hora de almoço e sms's ao longo do dia.

Feitiço

Speak Low Ogden Nash, lyrics, Kurt Weill, music Ella Fitzgerald , voice Speak low when you speak, love Our summer day withers away too soon, too soon Speak low when you speak, love Our moment is swift, like ships adrift, we're swept apart, too soon Speak low, darling, speak low Love is a spark, lost in the dark too soon, too soon I feel wherever I go that tomorrow is near, tomorrow is here and always too soon Time is so old and love so brief Love is pure gold and time a thief We're late, darling, we're late The curtain descends, everything ends too soon, too soon I wait, darling, I wait Will you speak low to me, speak love to me and soon

Eufemismos

Rescaldo de uma visita a quinta ecológica. Sobrinho – Estava lá uma mula e vi-lhe os órgãos sexuais. Tia – Qual era o género: masculino ou feminino? Sobrinho – Era do género cuniano.

Hosana

I bring you great news. The girl is back in town.

Arte pública

Em Portugal, por regra a arte pública é manhosa, para não lhe chamar outra coisa – se quisesse ser elegante, diria que o panorama da arte pública é por cá confrangedor. Há todavia excepções. A mais importante respeita a um artista ímpar, morto precocemente, cujo trabalho documentei uns poucos posts atrás. Muitos não saberão que, em Portugal, há um soberbo exemplar de arte pública da autoria de Juan Munoz. Fica ali, bem perto, no Jardim da Cordoaria, no Porto, e como é óbvio nem demanda aquisição de ingresso para ser consumido. Aviso apenas – mais não digo – que, se não se deixarem turvar pelo enlevo contemplativo, será uma experiência dura, muito dura, perturbadora. Fica aqui a sugestão, que é igualmente (duplo) repto.

Do acto criativo [graciosidade]

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Wallace Berman, Endpiece ¹, 1973 ¹A fraca legibilidade justifica a reprodução (no original) aqui do texto: What has happened to the old standards of loveliness? Are our men being taken in by the Continental or Dior look? Is the high-fashion type slowly replacing her more-endowed sister? We think not …… and to prove it, we are presenting here our idea of what American men really want in a woman …… all women.

Insegurança ontológica

A propósito de praia e de mar, há uns anos li num jornal com reputação a condizer uma notícia, não sei a propósito de quê, que a dado passo aludia a um mar infestado de crocodilos. Tempos depois a comicidade da coisa esfumou-se quando soube que lá para os lados do Índico há uma espécie de sultão dos rios que não se arrelia com o sal e faz incursões no mar para dar vazão à sua extraordinária gula. Tenho insondável pavor de bichos que mordem com tal afinco que não se ralam nada de perder uns quantos dentes na operação. Disso e de mouros na costa.

A Midsummer Night's Dream

Ontem dei à praia . Incólume ou deverei ressalvar, como o náufrago verdadeiramente consequente, que estiquei com o areal à vista? E ainda há o pequeno problema da orca . Grande verdade: homem avisado vale por dois judiciosos. Obrigado, Ivan .

Da série, Frases que impõem respeito [IX]

Quem não tem competência não se estabelece.

Da série A triste sina… [XII] do orc

Só existir em mundo de fantasia e mesmo assim não passar de carne para canhão.

Do acto recriativo [I - anelo de garoto]

Sempre quis saber como era ser mais papista do que o Papa. O bombyx-mori permitiu-me concretizar esse anseio tão arcaico quão casto. Aqui, bulas, encíclicas, circulares internas, epístolas, ao clero e aos leigos, prosélitos, peregrinos e fiéis, recados, notas em guardanapos de papel e adjacências, é tudo meu. E, qual cerejinha fulgente no topo do bolo, nem tenho Concílios, Sínodos e anéis restritos de influência pontifícia para aturar.

Do acto criativo [D’après nous le déluge]

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Juan Muñoz, [perspectivas de] Last Conversation Piece , 1994-95

Do acto recriativo [prelúdio]

Well, heaven forgive him [me], and forgive us all! Some rise by sin, and some by virtue fall: Some run from breaks of ice, and answer none, And some condemned for a fault alone. William Shakespeare, Measure for Measure .

Da série, Frases que impõem respeito [VIII]

Na primeira, vira à esquerda.

Do acto criativo [predação]

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Jackson Pollock, Blue (Moby Dick) , 1943

Da série A triste sina… [XI] da orca

Calcular mal a investida e ficar encalhada na praia.

Do acto criativo [Take a deep breath John Doe, there's nobody else here but you]

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Ed Kienholz, John Doe , 1959

Do acto recriativo [prefácio apócrifo]

Está um gajo e pai despreocupado, pachorrento, e resolve pôr um cd de pop electrónica despretensiosa, só para descomprimir, isto é: arrotar das comezainas que por acaso não enfardou. O cd até começa bem, soft and light , com uns apelos a que se ponha máscara de avatar . Mas, subitamente, qual tumefacção de The Lord of the Flies , dá nisto. Isto, sim; isto é heresia, blasfémia, a coisa a sério. Há gente [tenham lá paciência, perspicazes, mas é o meu momento puta relaxadíssima] muito torpe, tão ignóbil que não dá para imaginar. A regalia é que, com esta lyrics a repenicar na memória, nada do que me der na telha escrever daqui em diante poderá de facto chocar muito. Por que sei que tenho leitores muito sensíveis, que se melindram por dá cá aquela palha, e não posso recorrer à bolinha vermelha, transcrevo apenas uns versos. O remanescente fica à ordem dos vossos devaneios e fantasmagorias. I hate his majesty the baby The bald and dribbling little git The polymorphous little pervert In eve

Esparguete à bolonhesa [e epistemologia das ciências sociais]

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O autor das ilustrações que aqui se documentam (muitas delas transformadas em postais com enorme rotatividade e procura na I Grande Guerra) é o austríaco Raphael Kirchner. Para quem não sabe, é considerado o precursor do modelo de representação erótica pin-up , que tanto êxito faria décadas depois. Já sei – escusam de me advertir – que isto de ser pioneiro tem sempre muito que se lhe diga, mas sabem que mais? Por mim, nesta que não noutras matérias , contento-me com o habitual: si non è vero, è bene trovato . Tal como esta ditosa proposição e a iguaria em título, que nunca (ou)vi um italiano proferir ou escriturar.

Dialéctica

Agora e até que mude a ideia, serei desmancha-prazeres para quem, na partilha entufada de private jokes (também conhecidas, cá no burgo, por piadas de colegas ), se crê membro ínclito deste grémio, e pavoneia em conformidade. I don’t want to belong to any club that will accept me as a member. Groucho Marx É claro que não fará mal dominar, nem que seja pela rama, o conceito marxista de alienação.

Of all things

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With all due respect, I say: there’s no point in Resurrection. Uma pequena sugestão para a tarde deste Domingo de Páscoa, para a Quarta-Feira de Cinzas e todos os dias anteriores e posteriores. Um dos filmes de que mais gosto, e que infelizmente não revejo há longos anos.

Da série, Frases que impõem respeito [VI]

Vai chamar pai a outro.

Da série A triste sina… [X] da puta malcriada

Não ter clientes.

Unidos pela bola [só para alienados do desporto-rei e que nunca tenham ouvido falar do Groucho Marx]

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De um sportinguista para os adeptos do seu próprio clube, do Benfica, Porto, Belenenses e demais agremiações desportivas. Podemos estar em desacordo em muita matéria de substância e de forma, passar ao insulto e em casos extremos à mocada, mas estou certo que concordarão comigo. Há uma coisa que nos une até às vísceras. Nunca, mas nunca, admitiríamos que o nosso clube andasse nas bocas do mundo como um clube de carneiros e ovelhas. O que respondem, em uníssono, ao pedido pungente aqui em baixo? Mais um cartazito da I Guerra Mundial, desviado da série Propaganda por razões força maior.

Sexual healing (from Hollywood’s down to money morals)

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The Thing ¹ , formerly known as silkworm, is proud to present Mr. Kinsey’s horny world. Never mind the movie . Read the magazine. Unless, of course, you’re an athlete. ¹Através de um link de Rui Bebiano .

Propaganda [I, porque nunca se sabe quando é que as ideias para títulos se esgotam]

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A imagem aqui reproduzida é de um cartaz de propaganda para angariação de jovens americanos para o serviço militar, à época voluntário, depois da entrada dos Estados Unidos, em 1917, na Grande Guerra (1914-18). Quanto a paradigmas (e já agora prejuízos), dir-se-ia exemplar para ninguém desdenhar ou botar defeito de estética gay. A ser, das duas uma: ou a vanguarda (artística) sempre esteve na América, ou os gays são, hoje, muito conservadores. Se calhar, olhando com minúcia para o poster, a única conclusão sensata a tirar é a de que quem se lixa é o mexilhão. Pode rir à vontade, mas lixa-se de grande.

Do acto recriativo [brevemente, num blogue perto de si]

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Francis Bacon, Study After Velasquez's Portrait of Pope Innocent X , 1953.

Do acto criativo [feed me, eat me Anthropology, e outras linguagens]

Bruce Nauman, Raw Materials ¹, 2005 ¹O link envia directamente para site interactivo (dentro do site do Tate Modern ). Deixem carregar (não demora muito) e experimentem.

Do acto criativo [purificação]

Susan Hiller, What every gardener knows ¹, 2003 ¹"What every gardener knows" is an audio installation, consisting of music written by Hiller based on Mendel's theory of inherited traits. The piece is an electronically timed carillon that precisely marks the hours, half-hours and quarter-hours; it is designed to be installed outdoors in a garden. The work was originally commissioned last summer for the exhibition "Genius Locii" in Stadtpark Lahr (Schwarzwald). Mendel's discovery of genetic patterns was used to justify the so-called 'science' of eugenics, which proposed the elimination of all individuals who carried 'undesirable' inherited traits, but Hiller's musical version of the Mendelian code instead reiterates and celebrates the variety and richness of the genetic patterns which characterize all living things. Extraído de Susan Hiller Homepage .

Do acto criativo [mind, self and society]

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Hippolyte Bayard, Self-Portrait as a Drowned Man , 1840

Do acto criativo [III]

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Frederic Holland Day, The seven last words of Christ , 1898-1912.

Do acto criativo [II]

Em arte, o belo (e mais as outras categorias kantianas da treta) não me interessa a ponta de um corno. Mas deixem estar. Eu sou um poço de contradições.

Do acto criativo [I]

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Marcel Duchamp, Fountain, 1917 [original perdido]

Da série, Frases que impõem respeito [V]

A sorte está lançada [ai, que está mesmo].

Da série A triste sina… [IX] do filho do adepto de futebol

Ter de ser do clube do pai.

Ambição pequenina

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Há uma semana que aguardo que alguém me declare, com pompa e aparato, The Next Big Thing . Até agora, nada, nadinha, rien , ziltch . O mais congénere que aconteceu foi isto (e está quase absconso no canto superior direito). Olhem: que se dane. Já desisti da ideia, de resto ideia que, além de imatura, não augura nada de bom . Fica para a próxima reencarnação, que tudo indica acontecerá na condição de pré-adolescente. Pelo exposto, tenho uma comunicação solene a fazer: a partir de hoje, arregimentando o muito cá da casa Carpenter , chamem-me simplesmente The Thing ¹ , e, se acharem indispensável, acrescentem: formerly known as silkworm . ¹Repararam que, se este esquema de flibusteiro ordinário resultar, salto directamente de verme para mariposa sem passar por crisálida?

A propósito da experiência do sublime

Haverá alguma alma compassiva por aí que me saiba elucidar: por que razão o J.S. Bach apurou tanto quando transmudou a crónica da Paixão do S. Mateus ? Eu teria preferido que amasse mais S. João ¹ . Para minha mágoa (tal como, estou certo, para júbilo de protestantes, anglicanos e até evangélicos, embora estes últimos, como é público e notório , não se notabilizem por cultivar o gosto musical erudito), não cuidou tão assombrosamente deste. Aos beatos, tartufos e místicos de ocasião, digo: escusam de vir para aqui com a inspiração divina e os mistérios insondáveis da Criação. A coisa, como toda a coisa sísmica, é bem telúrica. ¹ Já agora, se alguém por acaso conhecer o senhor que se não fosse um certo i em vez de e seria jardineiro – e nada se lhe poderia repreender, uma vez que em Inglaterra jardinar é um distinto modo de vida –, é capaz de o informar que é tudo muito bonito, sim senhor, mas essa coisa da autenticidade e da fidelidade instrumental e interpretativa ao original e à épo

Da série, Frases que impõem respeito [IV]

Duas duma vez, para confundir as cabeças esclarecidas: Guarde-me Deus dos amigos, que dos inimigos eu me guardarei. Amigo reconciliado, inimigo dobrado. E Deus fica confuso, sem saber se guarda ou não. De qualquer modo, nestes três dias Ele tem mais que fazer que proteger malandros ociosos.

Da série A triste sina… [VIII] da mulher do adepto de futebol

Conviver com bolas e conversa afim a toda a hora, mas muito raramente senti-las a roçar no pito.

Ponte para a situação

Chegam-me de parte incerta odores de esturro. E dou por mim a pensar se não estarei a tergiversar. Escreveu Shakespeare, e eu parece-me que sim, we, ignorant of ourselves, beg often our own harms . Como tal, dou tudo por a reeditar.

Ex nihilo (ou anti clímax)

Para a comum das mortais e candidatas ao Olimpo, nem se atrevam a pensar-me capaz de encontros furtivos. Se não se importam, eu próprio lavo os meus pés. Agora que já nada autoriza conjecturar trincar o pitéu, chegou a hora da bênção Urbi et Orbi , versão trangalhadanças: ide e procriai, tourinhas, a bem da taxa de fecundidade nacional, que anda pelas ruas da amargura.

[adenda à mensagem pascal] Não se acanhem

Sou só um bocadinho troglodita, e nunca com senhoras – sem ofensa e com a voz do povo do meu lado: especialmente se estiverem no auge da fertilidade.

Mensagem pascal [só para senhoras e meninas maiores – mas não assim muito, muito – de idade]

Nesta Páscoa, começando por sorver um cafezinho algures na esburgada Lisboa fin de siècle , entretenha tête-à-tête o desconhecido que a tira do sério e todos os seus problemas serão resolvidos. Eis o lema, a que serei inteiramente fiel, duma astromancia relacional de curtíssima duração. Te Deum adaptado. O nosso sustento. Sem compromisso, e sem flores, que as acho mais próprias para necrotérios e necrópoles. Em Portugal são tão desengraçados – valha-lhes as flores e alguma parcimónia das almas penadas que por lá vagueiam.

Polémica e penitência

O Bruno Sena Martins respondeu à minha investida crítica incluindo este sítio nos seus destaques da semana. Mesmo que não seja essa a intenção, encaro o seu gesto como bofetada de luva branca, e cá estou para recebê-la. Com excepção do paternalismo inicial e final, de que aqui assento penitência, não removo uma vírgula, mas isso não me impede de dizer: chapeau . Tanto mais que a discussão, com o contributo central do próprio Bruno, prosseguiu por lá, nos comentários, em termos bem mais auspiciosos (ou menos curtos de vistas, como se queira) do que no post que os gerou.

Bruit du diable

M. percorre em passo marcial uma rua de África. Uma mulher cabrita, de compleição clara, da soleira de porta, atravessa-se-lhe na margem da vista. Traz na alça um bebé macho esplendoroso. M. pára e não se contém. Diz: «que lindo menino aí tem.» A mulher, sem teima ou gárrula, responde, apiedada: «Sim? Não acha que é um pouco escuro demais?»

Da série, Frases que impõem respeito [III]

Está aberta a sessão, senhores deportados, e por conseguinte: o povo é sereno.

Da série A triste sina… [VII] do adepto de futebol

Não estar na sua mão mudar de clube.

Oświęcim

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Que nunca nos resignemos perante o horror.

Gato escondido com o rabo de fora

Um rapaz de muita concupiscência pôs-se de alvitres sobre o significado da ausência de referências a novelas na blogosfera. A este propósito, alavanca-se assim: «Será apenas porque as novelas se vêem mas não se entranham na reflexividade e nas emoções?» E responde, assertivo, de imediato: «Duvido. É, creio bem, a mais pura vergonha pseudo-intelectual. Afinal, com maiores ou menores ambições estético-expressivas, é a complexidade da vida que se reproduz nas novelas. […] Estou certo que esse ritual diário […] ocupa um espaço nas histórias pessoais que tende a ser silenciado no espaço público. Mais silenciado ainda se esse espaço público assenta fortemente nas vaidades intelectuais e na estetização de um planar sobre a populaça. Caso do mundo dos Blogs.» Não falarei de grandes números, nem de outrem. Apenas do meu gosto (cultural). Sim, vivo com filmes, livros, música e outros objectos não banalizados e há muito que dispensei o eco maçudo e indigesto de seriados. O meu gosto, porém, não

Oto is not my name

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Um belo álbum para uma noite esticadinha. Para a vida, aventa-se isto e isto . Para a fase da Paixão, nada tenho a acrescentar à compilação que ali está. Obrigado José Mário.

Escuta, Zé-Ninguém

A todos os meninos e meninas de coro, young white collars from Utah e outros seres da salvação, da caridade e de boas intenções, tenho o seguinte aviso [à navegação] a fazer: Listen John Doe or Mary Quant. If you ever come knocking at my door with a prick smile on your face, I’ll shoot you. Bang, bang. I mean it.

A caminho do socialismo

Para cantar no corredor, repercutir na casa das máquinas, no andar de cima e demais loci homomorfos: people have the power, people have the power... [repetir refrão até que as cordas vocais cedam à vertigem] Então isto não soa muito melhor que aquilo ?

Nacionalismo (serôdio)? Não me dês essa música, pá!

Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar! Desculpe. Importa-se de repetir? Contra os canhões? Isto não é belicista, nem ode/apelo à bravura, à audácia, ao sacrifício, é pura e simplesmente estúpido. E não me venham com tretas, significados metafóricos, amnésias, que a nefanda Carga da Brigada Ligeira é de meados do séc. XIX. Não admira que, por cá, a cantada inaugural , fervorosíssima, de Kennedy, my fellow Americans: ask not what your country can do for you; ask what you can do for your country , não tenha grande popularidade. Bem vistas as coisas, tanto melhor. Ficam ambas para o rol de quinquilharias das piores óperas bufas.

Da série, Frases que impõem respeito [II]

É a falar que a gente se desentende.

Da série A triste sina… [VI] do remediado

Comprar toda a mobília a prestações no IKEA e ter a carteira cheia de cartões para tudo e mais alguma coisa.

Bedtime songs

Da minha demorada experiência, quando toca a adormecer crianças de tenra idade, esta (esperem um pouco, que ela aparece) e esta são as que maior eficácia têm. Quando não há pachorra, a coisa também se resolve com um: nap time. Sleep tight, don’t let the bed bug bite , beijo ou festa (ou beijo e festa) na cabeça e porta do quarto fechada. A primeira, além de mais, é a cantilena que o Kubrick, no 2001, põe na voz metalino-sintetizada do Hal, enquanto este, com manifesta renitência, vai indo desta para melhor. O que, já se adivinha, a recomenda para quem desde cedo pretenda submergir a prole em cultura. Presta-se ainda a variações temáticas , convidando-se aqui o leitor a exercitar a sua própria imaginação. Quanto à segunda, que se saiba, não há féria cultural a assinalar, mas em compensação muita vicissitude sugerida.

Programa da manhã

[e, vá lá, começo da tarde] Ir ao Porto num tirinho. O que vale é que o novo código da estrada ainda não entrou em vigor.

Da série, Frases que impõem respeito [I]

Pleito, taverna e urinol levam o homem ao hospital.

Da série A triste sina… [V] do pé descalço

Comprar a mobília na Moviflor. Ou esgadanhar-se enquanto tenta aproveitar os primeiros dias de promoções IKEA.

Ethos e continuidade

Chegado de Alvalade , satisfeitinho , deu-me para isto do ethos , dos subsídios biográficos, do vernáculo e da educação (emocional) dos filhos. A linguagem de taberna não me fustiga. Uma das minhas regras de ouro, das poucas que até hoje nunca me decepcionaram, é: não te fies num homem que não gosta de bola e numa mulher que não pragueja , com propriedade claro está. Quando eu era pequeno (sensivelmente a partir dos 3 anos), e as ruas locais menos depredados por carros e outras máquinas motorizadas, a minha mãe, por razões ideológicas, entendeu que era aí e não em casa que devia passar (parte d)o meu tempo. Para conviver com os meninos da rua e assim ganhar calo e músculo das coisas pedregosas de menino de rua. Se há traquejo que vai com esse secular ofício é o do vocabulário, vernacular já se sabe. Coitado do J.P., o mais bem educado petiz dessas bolandas. Como era incapaz de vernaculizar (de vez em quando ensaiava um «vai para o cocó», mas não se atrevia a mais), fedeu-se de grande.

O homem da minha vida

Quis a vida e os fados, quer o génio e a índole que as dores me acompanhem. Olho para trás, para o que grafei aqui e noutros lados, para a frente, para o que tentarei escrever e para o que se me originar em escrita aparecida, e por toda a parte urdo mácula inscrita. Talvez não devesse quebrar o silêncio. Deixar tudo assim, como está. Sem leitor. Sem leitura impura. Das dores, nas minhas dores, pouco importam os vícios mentais, o encastelamento de virtudes inacabadas, as pequenas amarguras, as diatribes maçudas; pouco significa a irascibilidade quotidiana detonada por um qualquer episódio de contumaz confronto. As minhas dores são as da intolerável morte. Chegada, presente, brutal. A elas volto, mesmo sem polir, sem a bênção da revisitação procurada. Uma bênção. A bênção, meu pai.

Parada amorosa

J., 4 anos, chega a casa dos avós maternos e corre para os braços de A., avô. A. enlaça-o e pergunta: estás bom, J.? J., firmando os braços esticados no peito de A., riposta: o avô vá à merda, não me chateie! A., deliciado, conclui: ah, ninguém sai às pedras da rua. À memória sentida do meu querido avô A., que muito gostaria que eu tivesse sido Menino da Luz .

Do declínio histórico de um serviço de honra

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7 horas e 57 minutos. Todos falam. Banzé e mais barulho. Coisa de crianças, dotadas, sobretudo pela manhã, de uma energia insuperável. Que canseira, só de olhar. Dois minutos passam. A porta abre-se mas nenhum deles faz caso. Uma voz mais grave cobre-lhes a ciranda. «Já cheguei. Vamos trabalhar.» Mais uns empurrões, cadeiras que arrastam, chiando terrivelmente. O costume. Desembravecer aquela gente pela alvorada nunca é tarefa bonançosa. «Vamos lá, compostura, que hoje não estou bem disposto.» Nunca estava, ou assim dizia, pensaram muitos deles. Num sussurro, um mais afoito confirmou: « ainda temos uns minutos que ele não se impacienta tão depressa.» Dois minutos mais. Ouve-se finalmente um bater de palmas metálico, terminante. «Quero quietude. Não tenho disposição para motins.» Era a expressão que, da sua parte, servia para encerrar a galhofa. « Livros em cima da mesa, página 132.» O Ganas não estava pelas medidas. Girafa , dois dedos mais alto mas menos atrevido, tinha-o injuriad

Agradecimento

A Sofia , um dos autores mais sofisticados ( dommage : a língua portuguesa é mesmo falocêntrica) deste cantinho blogueiro à beira-mar plantado, adicionou-me à carta destes céus. Muito me honra e penhora. Noblesse oblige , uma confissãozinha: fiz batota. Mandei-lhe um bilhetinho prévio na expectativa de que considerasse isto boa nova . Obrigado Sofia.

Da série A triste sina… [IV] de um homo sexus

Pirilaus não interessam, rosinhas enxofradas também não.

Se forem de Espinho, diplomatas e intelectuais, dispõem ainda da alternativa...

臥虎藏龍 ¹ ¹Tigre sentado; dragão escondido [que sem se moverem, passam despercebidos].

Se forem de Espinho e diplomatas, então podem optar por...

龍騰虎躍 ¹ ¹O vôo do dragão; o salto do tigre.

Sugestão de tatuagem [a matar] para Andrades

望子成龍 ¹ ¹Que meu filho se torne um dragão.

O último post

Quando estiver de saída, esperem, com precisa antecedência, qualquer coisa do género: Há quem não hesite em dar brilho ao petit nom . Eu não. O bombyx mori está quase a fechar as portas, a encerrar actividade. Não se recomenda. Está caduco, tautofónico, faz-me espécie, fornicoques nos sítios errados, outras singelezas e mais umas quantas urticárias que agora não vêm ao caso. Sinal dos tempos: Je est un autre. É claro que ao terceiro dia muita coisa pode acontecer.

Ciclo de vida

Se levar a entomologia a sério, não devo durar neste estado mais de 30 a 34 dias (e entretanto ter-me-ei metamorfoseado cinco vezes e comido e crescido como uma besta). Depois, ainda sobrevivo mais uns tantos entre crisálida e borboleta. Não gosto de sujeitos austeros, mas às vezes têm regimes de vida nos quais vale a pena meditar.

Coisas que põem um gajo à nora. [I] Miúdas

Cenário: Programa de festa dos 9 anos de rapaz, com cinema e lanche. Cena: Diálogo a três imediatamente anterior à projecção do filme. Personagens: Pai, filho único, do rapaz; L., colega de turma do rapaz do sexo feminino; I., idem. L. para Pai [em porte aformoseado e tom a condizer, mas sem dramatizar]: ai, é a primeira vez que venho ao cinema. Pai para L. [manifestando perplexidade]: a primeira vez? Queres tu dizer, a primeira vez que vens a este cinema? L. replica: [acentuando, mas só ligeiramente o porte] não, não. É a primeira vez que venho ao cinema. I., que até aí se mantivera aparentemente alheada, intervém na conversa, dirigindo-se a Pai [mimetizando o porte de L.]: não ligue. Ela às vezes é um bocadinho mentirosa. Pai, faltando-lhe argumento, cala-se, absorve em seco e matuta: que grande baile acabei de levar.

Eppur si muove (racismos)

José trabalhava nas obras já há algum tempo. Para trás, muito, os seus amores perfeitos: os livros, o Desassossego do Pessoa. «Ó preto! Anda cá: leva-me este entulho daqui para fora. Mexe-te!» Tinha vindo como muitos outros, sem destino nem sorte, através de esquemas que lhe tinham custado, a si e aos seus, da miséria o dobro. Mas não hesitara. Oportunidade como a que lhe abrira o cônsul, não surgia todos os dias. Sabia bem que, acaso a recusasse, à pária gente ninguém, nem a própria, perdoa a morna e o prejuízo. Nem sequer estava sozinho. Amigos, conhecidos, primos da sua e de outras paragens, uns já chegados, outros a caminho ou que haveriam de vir, em porões putrefactos dos restos e dos dejectos, acompanhavam-no naquela cilada irrecusável. O que mais o transtornara na viagem, confessou-o mais tarde por carta, sem inocência, a irmã mais nova, ainda esta não tinha entrado na idade das regras , fora a impossibilidade de asseio pessoal. Água, só para beber, e nem para isso sobrava. «Mas

Da série A triste sina… [III] do investigador calejado

Não saber fazer mais nada, ou ninguém acreditar que saiba (vai dar na mesma merda).

O que tu queres, sei eu! [I] Quo vadis, futebol?

Um pequeno excerto, provocante mas também hiper-sugestivo (e incisivo), de um artigo do cineasta brasileiro Ugo Giorgetti, intitulado «Arte e futebol», onde este controverte o paradigma, na organização, na espectacularidade, na rendibilidade, da inacreditável NBA . Um jogo da NBA, seja ao vivo, seja acompanhado pela televisão é um espectáculo perturbador […]. Ver pequenos seres loirinhos, gordinhos e sardentos, no colo de pais também loiros, gordos e sardentos, todos batendo as mãos e obedecendo a palavras de ordem anunciadas previamente por um alto-falante, gritando o que os alto-falantes lhes mandam gritar, ver jogadores que se movimentam incentivados por sons de corneta em toques militares, ver espectadores incertos entre acompanhar o jogo que se desenrola à sua frente e o mesmo jogo ampliado em telões no alto do ginásio, ver artistas de cinema atuando, como sempre, dessa vez fingindo serem simples torcedores, entusiasmados por times que na verdade não são times mas “franchisings” e

De certeza certezinha

Se o blogue retorquisse, dar-me-ia o nome de virgem seráfica . Caraças, nunca mais arranco para um momento verdadeiramente musical.

Circunlóquio

A bem da rima, do proveito e da modernidade linguística propor-se-á substituir a expressão idiomática: o que tem o cu a ver com as calças? por o que tem a queca a ver com a cueca? Se não se lobrigar vantagem para o intercurso dos circunstantes, ao menos revezar-se-á, ou nem isso?

Self-fulfilling prophecies

Quando ouço as criteriosas e doutas palavras de autoridade em assuntos económicos a falar sobre a sombria conjuntura económica nacional (e, a montante, europeia), fica-me pelo menos uma certeza: nelas sem dúvida insistirá, errando (no duplo sentido) na impermeabilidade e arrogância da sua imensa doxa calculus numerica enquanto philosophica perennis ou deus ex machina prendada com allgemeingultigkeit . Vá, vá. Não se abespinhem. Do meu lado, além do vocabulário cifrado, possuo apenas um bacamarte enferrujado palmado aos franceses nas Invasões por um antepassado que gostava de contar histórias aos pequeninos e para a posteridade.

Reich der großen zwecke

Nunca foi bruke für freiheit para ninguém. No melhor, é coisa insípida de pateta preguiçoso. Não contem comigo para esse peditório.

Reich der namen

Agraciado por Deus , logo seguido de Nobre, diligente, atencioso, capaz . Não está nada mal.

Da incompetência da petty bourgeoisie

Da minha infância, entre muitas outras coisas, retenho uma situação especialmente angustiante. Velhotas ataviadas e pivetando perfumes intensos, acercavam-se-me na rua perguntando, com sorrisos evidentemente traumáticos: gostas mais do pai ou da mãe? Pelos oito anos descobri a réplica exemplar: quero carne. Pelos onze, acrescentei-lhe malícia: as the actress said to the bishop.

Projectos

Quando prosperar, ou seja: medrar além dos meus limites, compro um carro com motor de seis cilindros e adiro – sim: adiro!, colo-me voluntariosamente; quero cá saber de conversões e reviralhos – ao catolicismo. Com excepção de Fátima, que não tenho paciência para coisas pindéricas.

Rigor doutrinário

Conta-se que um renomado político da nossa praça já reformado, confesso e professo ateu, um dia, por ocasião duma cerimónia oficial, terá sido delicadamente abordado por um alto dignitário da Igreja acerca da sua incredulidade. Aquele político tê-lo-á então esclarecido: o Senhor ainda não me fez a graça.

Da série A triste sina… [II] do escriba-doutorando

Só ser lido pelo orientador e pelo arguente - e é quando é e vai cheio de sorte (ou azar, quando embirram muito).

Desmontagem

… São estas coisas que dão má nome à pedofilia , disse certo dia Herman José. Note-se que não titulei este post: desconstrução . Por isso, não me venham acusar de simpatias fenomenológicas. Ide depressa ao ferro-velho e não descurai também um giro por armazéns de salvados. A grande vantagem da desmontagem sobre a desconstrução é que se aproveitam, indemnes, muitos mais artefactos.

A Comédia do Barbudo (João dos Deus)

God loves to fly over sliced items and small figures.

Escrúpulo democrático

Coisa que nos vem das entranhas pensar quando as luzes da ribalta focam Santanas, Marcos e afins, mas jamais convém dizer alto, sob pena de encorpar camisa negra (fascista) dixit: faex urbis, lex orbis (as Leis da Cidade são feitas pela canalha – ralé – da urbe). Quando se desatenta, a dado passo não há remorso que valha.

A virtualidade do mercado é só isto?

Anda aí nos escaparates e na boca de um certo mundo uma obra, de um tal de dr. Johnson, intitulada: Quem Mexeu no Meu Queijo? Dizem-me e o próprio livro faz questão de documentar, que deixa os gestores da nossa praça e de outras praças a salivar abundantemente. É uma fábula parabólica, com criaturas épicas que se destacam, como não podia deixar de ser, por conseguirem farejar o queijo. Moral da história: todos nós devíamos seguir o exemplo de tais criaturas, e assim fazer jus à palavra bíblica. Há uma versão para adultos e outra para crianças. Façam-me um enorme favor. Não vão além da infantil, que ainda lhes dá uma coisa má. Pela minha parte, não ligo peva. Nunca gostei de queijinho, seja ele gruyère, emmental ou outro qualquer. P.S. Bowing, for the very much so honourable mr. Keys.

Rebate sem grande importância

Um homem de negócios é um homem sem ócios? Se assim for, não é possível distinguir na substância um grande de um pequeno homem de negócios .

Adversidade criativa

Um alentejano para outro: – Ó compadre, vossemecê sabe como se chamam os habitantes de Guimarães? O compadre, depois de longamente ponderar o problema, finalmente responde com ares aturdidos: – todos?!

Da série A triste sina… [I] do carapau de corrida

Ter um currículo extensíssimo.

Direito à boa língua

Este post na verdade dever-se-ia chamar Para partir a louça e bater com as portas . Vamos lá despachar isto que aqui se gastam palavras. Do CDS oscilante PP, da direita moderna, um dia um homem teve um sonho . O homem que faz (de) frente, impecavelmente vestido e autêntico. Falo povo, bendito trabalho(ador) , que, conversa em família , a direita anda por aí, se Deus quiser . E já agora uns beliscões em ditirambo, que o protagonismo é para ser a cada pequeno passo milimetricamente apropriado (ai que a viscosidade é marxista!). Na Última Noite , o preclaro e verborreico PP fez-me lembrar o rapazinho imberbe de posses que, contando as suas proezas automobilísticas à sua criada velha – uma hora e dez entre Lisboa e Porto -, obtém em resposta: o carro do menino é o melhor do mundo, o seu relógio é que é uma merda . Do BE, dedáleo, sempre a promessa de uma esquerda à esquerda , como quem diz Benfica à Benfica , com propostas in vitro sem enfeudamento a dogmatismos gastos e a clientelas ve

Embevecimento do macho

Quando sua mulher, em discussão assanhada de gajas tão fulanizada quanto acesa, não vacila: mal fodida, eu?! Tenho calos no cu dos colhões do meu marido!

Choninhas q.b.

Para aqueles rapazinhos a sair de órbita e da idade que passam a vida a lamuriar-se da falta de grelo e conjuntiva atenção, rememoro umas sábias palavras de Frank Zappa (e sabe Deus quantas vezes e com que potestade as cantou): She's 200 years old, so mean, she couldn't grow no lips Boy, she'd be in trouble if she tried to grow a mustache. De uma vez por todas, ponham a pose des(en)graçadinha de lado, se faz favor.

Fama perfeita

Não se estranhe o meu estilo (visceralmente avesso a livros de estilo ). Até ver ganho a vidinha a escrever pr'ó carote. Valha a verdade que dizem que arreveso. Noto, em minha defesa, que a palavra que representa a clareza discursiva dificilmente poderia ser mais mal-amanhada. Pedem-me que seja escorreito, que escreva escorreitamente. Que diabo, parece que me acenam com doença venérea.

A arte da fuga

O trabalho de decifração acumula conjecturas incertas, e não se pense que insto a que me desamparem a loja . Não é necessária tanta inquietação. Chega nada tresler. Ficará, remindo a disfarces e diletâncias. Na pequena mas algo hesitante narrativa variativa que a seguir deixo, a acompanhar com tento e alguma falta de argúcia analítica, não há o mais diluído vestígio de veneno ou de, outra forma de peçonha, arrogância. E aceitam-se preferências e, neste caso muito particular, antónimos. Versão primeira: Esta história quando estiver de estar próxima de estar finda há-de ter título parecido. Por enquanto é só ruindade. Do costume tira coice que para ter ao dar perdeu. Xexé mesteiral, que nem onça defessa. Na peugada foleira, tralará tralará no choupal. Antes zabumbar. Desarrima daí. Desaustina e a desfeita se não des-dificulta. Estafermo era coisa pessoa sem préstimo. Agora nem isso, apenas jacaré informativo, por acaso infrene e muito ou talvez ingurgitado. Se não te apressas, vai precis

Da identidade

Para começo, um esclarecimento, em nome da verdade: não sou judeu. E, boa gente, convirá que não é nada fácil não ser judeu: um gajo tem que passar a vida a provar que é mesmo inteligente. A propósito, no séc. XVIII contava-se uma anedota que cai aqui que nem ginjas. Andava o Rei D. José preocupado com a crescente incapacidade de distinguir cristãos novos e cristãos velhos. Vai daí, lembrou-se de um expediente para resolver o problema. Daí em diante os cristãos novos deveriam usar chapéus em todas as circunstâncias públicas. Procurou então o Secretário de Estado do Reino, D. Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, solicitando-lhe que, tão breve quanto possível, pusesse em prática a sua ideia. Passado algum tempo o Marquês regressa ao encontro do Rei: - Vossa Alteza, trago aqui três chapéus: um para Vossa Alteza, outro para o Inquisidor Geral e o último para mim próprio. Antecipando o sobressalto do Rei, o Marquês adianta-se, prosseguindo sem interrupção: - De acordo com