Da identidade

Para começo, um esclarecimento, em nome da verdade: não sou judeu. E, boa gente, convirá que não é nada fácil não ser judeu: um gajo tem que passar a vida a provar que é mesmo inteligente. A propósito, no séc. XVIII contava-se uma anedota que cai aqui que nem ginjas.
Andava o Rei D. José preocupado com a crescente incapacidade de distinguir cristãos novos e cristãos velhos. Vai daí, lembrou-se de um expediente para resolver o problema. Daí em diante os cristãos novos deveriam usar chapéus em todas as circunstâncias públicas. Procurou então o Secretário de Estado do Reino, D. Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, solicitando-lhe que, tão breve quanto possível, pusesse em prática a sua ideia. Passado algum tempo o Marquês regressa ao encontro do Rei:
- Vossa Alteza, trago aqui três chapéus: um para Vossa Alteza, outro para o Inquisidor Geral e o último para mim próprio.
Antecipando o sobressalto do Rei, o Marquês adianta-se, prosseguindo sem interrupção:
- De acordo com a vontade de Vossa Alteza, pedi ao Senhor Inquisidor Geral que, pela via das genealogias, identificasse os súbditos do Reino sem ignomínia. A conclusão a que ele chegou é que no Reino inquestionavelmente só três pessoas podem receber, sem mácula, o atestado de cristão velho: Vossa Alteza, ele e eu. Desse modo, entendi que, sem ferir no fundamental a querença de Vossa Alteza, era mais simples reservar-nos o uso de chapéu, interditando-o a todos os Vossos demais súbditos.
Não vá persistir alguma incerteza no espírito do leitor quanto ao alcance e/ou sentido desta anedota, segundo sei (e reputo as minhas fontes de absolutamente seguras) nenhum dos três se conta entre os meus antepassados.

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