Gato escondido com o rabo de fora

Um rapaz de muita concupiscência pôs-se de alvitres sobre o significado da ausência de referências a novelas na blogosfera. A este propósito, alavanca-se assim: «Será apenas porque as novelas se vêem mas não se entranham na reflexividade e nas emoções?» E responde, assertivo, de imediato: «Duvido. É, creio bem, a mais pura vergonha pseudo-intelectual. Afinal, com maiores ou menores ambições estético-expressivas, é a complexidade da vida que se reproduz nas novelas. […] Estou certo que esse ritual diário […] ocupa um espaço nas histórias pessoais que tende a ser silenciado no espaço público. Mais silenciado ainda se esse espaço público assenta fortemente nas vaidades intelectuais e na estetização de um planar sobre a populaça. Caso do mundo dos Blogs.»
Não falarei de grandes números, nem de outrem. Apenas do meu gosto (cultural). Sim, vivo com filmes, livros, música e outros objectos não banalizados e há muito que dispensei o eco maçudo e indigesto de seriados. O meu gosto, porém, não se esgota nem amarra na chamada esfera da cultura cultivada. Nele convergem também: de um lado, o gosto da bola, de jogar e de ver, e aqui confesso que far-me-ia feliz da vida passar todos os dias muito do dia entre uma e outra actividade; do outro lado, o deleite com porno hardcore, do puro e duro, que não se reveste de incontinência verbal, de fidalgotes jogos florais e de atavio pseudo-estético para demarcar o campo legítimo (e por isso lídimo e estimável) do erótico. O soft porno, ou a maceração libidinosa, tipo mamilo desencoberto em roupa translúcida, provoca-me vómitos (na verdade só tem esse efeito quando especificamente reflicto nesses objectos hiper-construídos; quando contemplo, fico indiferente). No capítulo da tusa, e dos signos da tusa, não tenho paciência nenhuma para chochices, para formas transfiguradas (e pseudo-sublimatórias) de não fode nem sai de cima.
Assente isto, passo ao ponto. Sabe o que lhe digo da sua assertividade auto-comprazida, que ademais o isenta e escuda da pena do armário? Que lhe fica muito bem, e revela recursos simbólicos não democratizados, mas se quer interpelar (e desemaranhar) o gosto (cultural) dos seus pares e denunciar farsas e embustes pseudo-intelectuais, convém antes concluir o desmame, menino.
Deixo para outro dia a putativa decifração do magnetismo das novelas. Agora vou aqui ao lado acabar um texto que por acaso tem a ver com isto e com a realidade.

Comentários

Afonso Bivar disse…
«Não te metas nisto, mulher!» Desculpe a ousadia, mas não dá para dizer doutro modo.

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