Ethos e continuidade

Chegado de Alvalade, satisfeitinho, deu-me para isto do ethos, dos subsídios biográficos, do vernáculo e da educação (emocional) dos filhos.
A linguagem de taberna não me fustiga. Uma das minhas regras de ouro, das poucas que até hoje nunca me decepcionaram, é: não te fies num homem que não gosta de bola e numa mulher que não pragueja, com propriedade claro está.
Quando eu era pequeno (sensivelmente a partir dos 3 anos), e as ruas locais menos depredados por carros e outras máquinas motorizadas, a minha mãe, por razões ideológicas, entendeu que era aí e não em casa que devia passar (parte d)o meu tempo. Para conviver com os meninos da rua e assim ganhar calo e músculo das coisas pedregosas de menino de rua. Se há traquejo que vai com esse secular ofício é o do vocabulário, vernacular já se sabe.
Coitado do J.P., o mais bem educado petiz dessas bolandas. Como era incapaz de vernaculizar (de vez em quando ensaiava um «vai para o cocó», mas não se atrevia a mais), fedeu-se de grande. Tornou-se alvo colectivo de chacota. Na rua, com miúdos (alguns assim pertinho do lúmpen), a crueldade é para (todas as) brincadeiras…
Com o meu rapaz, não gosto que ele faça alarde dessa interessante competência à minha frente e dos adultos em geral. Quer dizer, o que lhe disse e ele já compenetrou é que as tabernices devem ficar para os amigos. Com eles, que abra o livro todo, e até se lhe ensinou um ou dois em italiano por causa de colegas de escola oriundos da bota mediterrânica (também sabe em castelhano, inglês e alemão, não vá o diabo tecê-las). Na minha presença, admito uma única excepção: quando vamos à bola. É impensável ir ao futebol e não chamar o árbitro, alguns adversários e o nosso treinador, que tem um nome que está mesmo a pedi-las, pelos seus copiosos e garridos nomes. Sem isso, bola não é bola e o resto é conversa de Edite Estrela.

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