Post sobre post infeliz

De caras e sem rodeios: meti (de grande) a pata na poça. O meu último post presta-se a leituras enviesadas. Sidney Poitier não é, nunca foi a marioneta branca que o texto sugere, nem alguma vez renegou a sua condição inscrita na pele, de resto em vários fora. Mesmo a maîtrise do inglês anglófono (passe o pleonasmo), distintivo, tem de ser imputada às circunstâncias particularmente adversas que, nos anos 40, Sidney Poitier, enquanto jovem actor negro (então na casa dos 20 anos), enfrentou para singrar nos mundos da representação do teatro e do cinema, incomparavelmente mais hostis, objectivamente vedados, a jovens talentos negros do que hoje. Essa aquisição (de capacidade performativa) constituiu portanto um trunfo, de certo jeito um capital compensatório, para afirmar as suas competências dramáticas, e poder, muito legitimamente, fazer carreira como actor de primeiríssimo plano.
Quando percebi que tinha feito asneira da grossa, duas possibilidades colocaram-se-me: eliminar o post original (para eventualmente publicá-lo mais tarde com outra formulação) ou introduzir esta adenda. Optei, como bem se vê, pela segunda solução. Fi-lo por três razões.
Em primeiro lugar, considerei preferível dar a mão à palmatória a subtrair à socapa, cobardemente, o meu desacerto, como se ele nunca tivesse ocorrido. Em segundo lugar, entendi que a correcção que iria na adenda, mitigaria substancialmente o risco de se ver nas minhas palavras conteúdo neo-racista (ou de envilecimento da figura de um homem negro). Por último, pensei que, assim, poderia conservar o que considero ser o essencial do meu argumento. A saber:
a) por um lado, identificar a ambição de um certo catolicismo arrogante, o qual, escudado ou não formalmente na prática ecuménica, tem ainda no horizonte afinal o velho sonho cruzado da evangelização a favor (da hegemonia) da Igreja de Roma – e cabe aqui mencionar, em paralelo, o delírio fátimida da conversão da Rússia, que deve acirrar como poucas coisas o ânimo dos cristãos ortodoxos russos que dele ouvem falar;
b) por outro lado, salientar a ingenuidade que flui na perspectiva nominalista de que um só homem, seja qual for o relevo institucional da sua acção, pode atenuar as relações de dominação racial.
Que nada disto, todavia, secundarize o ponto central deste post/adenda. Mea culpa, por tão deplorável cedência a uma instrumentalização precipitada e infeliz.

Comentários

Anónimo disse…
Vai meu filho, estás perdoado.
Mas para a próxima não te esqueças de postoconfessionar também o uso indevido do Graceland.
Afonso Bivar disse…
Queria por certo dizer herético? Aí, garanto-lhe, nada há a relevar. Perfeito.
E mais duas coisas:
a) vá chamar filho a outro; b) tuteio, não. Entendido?

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