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A mostrar mensagens de maio, 2006

Fim

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Ladder for Booker T. Washington , 1996 Martin Puryear Para chegar ao Céu? É fácil. Basta subir as escadinhas.

Fim de festa

Isto é que, para acabar, foi uma orgia postática, hã? Prostática também não desvia muito do assunto. Falta-lhe apenas verso a condizer.

A história e a moral

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Mona Lisa LHOOQ , 1919 Marcel Duchamp Em mil e novecentos e muita coisa, já eu me havia despedido e feito luto dos escrúpulos, estava de núpcias aprazadas. A nubente, sendo de família numulária, tinha tudo, excepto o aspecto, provado sob todos os ângulos, que era de mastronça. Um desastre e peras. Do pescoço para cima avultava-lhe um buço de bradar aos céus. Assim fiz. Com o devido respeito, bradei e veio um anjo. Tinha pinta, o anjo, um Paul Newman mais novo, ainda sem vícios de representação, evidentemente andrógino. Numa fracção de segundos fez o serviço. Retirou-lhe o buço, depositou-o numa balança, pesou-o e comunicou: 50g, é de fechar o coração a qualquer um. Do mais, não posso fazer milagres . Dito isto, desapareceu misteriosamente. Tive um mau pressentimento. Não me fio em quem se põe na alheta sem pedir licença e sem dar ensejo a agradecimento. Não muito crente, torci-me para a noiva, suspenso do benefício. Fiquei para morrer. No lugar do bigodinho, uma fístula extensa, morfei

Mature men do it better (and last longer)

A prova conclusiva, cabal, irrefutável? Aqui .

PC

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Olivetti-Yamaha-Grundig Combo [mixed media, typewriter, organ], 1965/1982 Dieter Roth Em nome da paz de espírito presente e futura e dos direitos que me assistem de fechar a porta a impropérios auto-endossados, e também de não ser obrigado a deixar as lágrimas correr livremente, vi-me na contingência de comprar um PC novo. O douto informático que contactei disse-me que o segredo de uma boa máquina reside na assemblagem . Logo aí, um ponto a favor dele. É tão bonito ver o ecumenismo linguístico em acção. O segundo ponto aconteceu quando lhe transmiti que, se era questão de assemblagem , então queria um engenho à Dieter Roth e ele, repentinamente tossiquento, respondeu: o senhor não quer resolver o assunto a bem, pois não?

Professor universitário

Deve ser bom ser . Se escreve coisa séria, ensaística, calma aí pá, qu’o gajo é professor universitário. Temos de ver o qu’o gajo tem a dizer . Se escreve à desgarrada, a debicar, a desbundar, um professor universitário nestas lidas? Ó pá, um professor universitário excêntrico não é todos os dias. Toca de ver o qu’o gajo arrota . Se envia beijinhos e fofuras, olh’ó o marmanjão no engate. Deixa cá ver com’ó gajo embraia . É sempre a somar. Mesmo no conflito. Enquanto o comum dos mortais faz das tripas coração, o professor universitário faz das tripas corda para se enforcar. O pagode delira e até paga para ver. Bolas, roo-me de inveja. Também quero ser um professor universitário. Será que ainda vou a tempo?

Errata

Por aqui, no bombyx mori, onde quer que conste o vocábulo energúmeno deve-se ler rui-rio , um neologismo bivaresco, com hífen como manda a regra. Com um abraço especial ao Augusto M. Seabra.

Ourinha

Estava eu no outro dia à beira de um precipício, com um recipiente ovóide pendurado no ombro direito, em memória da vida intra-uterina, do caldinho de 36,4º sem ter de gramar o Sol a picar o toutiço, e deu-me a vertigem do passo em frente. Disse: ó xy (o meu estafado) , dá lá o passinho em frente. Não fazes isso por mim? O xy ficou fulo: tás parvo ou quê? Dá tu! Caímos em nós (note-se o majestático), fizemos meia-volta e regressámos a casa a puxar a orelha um ao outro.

Terrorismo alimentar

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Os antigos dizem-me que, no seu tempo, não encapsulavam. Era a frio. Quando (os antigos dos antigos diziam que) tinha de ser lá marchava pela goela abaixo, com assustadora repercussão facial. É o que os antigos garantem: não se morria da doença, quase se morria da cura. De desgosto absoluto. Eu limito-me a constatar que o progresso tecnológico pilulou mas não dourou.

Verdade e inconsequência

Na intelligentzia soignée , confortada nos livros e nas fitas recomendadas pelo chatinho auto-suficiente do Benard da Costa e consolada à mesa a vinhos do Douro e agora, ao que parece, da Argentina, há muito esta ideia de que, nos meios populares, quando uma mulher questiona outra questionando a virilidade do seu marido/homem, a resposta típica é: eu, mal fodida? Tenho calos no cu dos colhões do meu marido/homem . Graça tem, mas a etnografia mostra que o sacramento é outro: mal fodida, eu? Queres vir lá a casa? O meu homem também chega para ti . Lá se vai a punch line e mais qualquer coisa. Ou não fossem estas que põem o feminismo militante de cócoras.

E você, está contente com a vida sexual que leva?

Entre amigos chegados, ambos cornos muito mansos: – A minha namorada anda a foder um preto e diz que eu devia experimentar também. – Com uma preta? – Não. Com o preto dela.

Griffe bombyx

Atalhar pr'ó bacalhau é uma expressão que promete fazer história, não acham?

Goodlife

Tenho um espírito plácido. Mas quando me chegam os azeites dou e levo. Gosto mais de dar. Por isso, podendo, guardo os azeites para os pequeninos, mais pequeninos que eu. Não me exijam muito mais. Caso contrário, fico confuso e eu confuso não dou uma para a caixa.

Da série, Frases que impõem respeito [83]

Solta o Robespierre que há em ti. * * Ouvida a M.

Os amigos são para as ocasiões #2

O que esguicha da cabeça dos meus amigos até pode não ter ponta por onde se lhe pegue. Mas não esperem que emende a palavra. Uma amizade fiel e verdadeira nunca se prende a pormenores insignificantes, sobretudo quando há dívidas avultadas de jogo pelo meio. Como dizem na bolsa: ainda estou em terreno francamente negativo.

Séries e sequelas

Por voltar a falar em amizades típicas e honras do convento, das sucessões vertiginosas na blogosfera até me admirou que o tópico do amiguismo não tenha precipitado o do fordismo. Em roadster , a alta velocidade, com o r no lugar do morto a fazer de avô cantigas, o último a quem, naturalmente, ocorrerá interrogar-se: com quem será hoje à noite?

My kind of blog

Iniciaria a actividade na rentrée comensal, sibilaria no nome, teria o seu quê de gato escondido com o rabo de fora, na composição seríamos mais qu’as mães, preencheríamos os espaços com mérito, prometeríamos e cumpriríamos muita literatura avançada para a época e para o meio e não convidaríamos aquele chanfrado da Revolução Cultural para patrono ou père la joie ; sucintamente, à maneira, far-se-ia sentir algum brin de vent de comuna original. Pas mal .

Auto-retrato (pela manhã)

Das duas filhas de um certo Monarca europeu diz-se que, contrariamente ao irmão, herdaram a beleza da mãe e a inteligência do pai. Estou certo que nenhuma delas enjeitaria ter escrito esta prosa.

Ninho #1

Em miúdo chamava à minha cama o ninho . Não tem nada de misterioso. Era alta e eu fartava-me de cair dela.

Ninho #2

É por essas e por outras, e por ter a quem sair, que nunca acreditei na historieta do ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo . Se põe, mais valia estar quieto.

Ninho #3

Quando, aos 13 anos, uma certa amiga da minha mãe mais estouvada me tratava por borrachinho ficava fulo, perdido dos nervos, dava para trás, respondia torto, era bruto, mal-educado. Na minha inglória e reconheça-se tardia inocência, julgava eu que ela se referia às minhas quedas tão frequentes quão estrondosas da cama.

Ninho #4

É claro que, aos 14, quando a Isabel, que, se bem me recordo, tinha três a mais, coincidiu no chamamento já não me passou pela cabeça que tivesse andado de conversas amenas com a minha mãe.

Ninho #5

Ainda assim, só cerca de dois anos depois, aos 16 portanto, passei a empregar com critério e bom senso o termo polissemia .

Veleidade perdida

Jorge tinha para si uma só idiossincrasia: acabar todas as conversas, gracejando, com a expressão inglesa to be continued . Foi assim até ao dia em que conheceu a talqualmente portuguesíssima Joana que, sem enlaçar peripécia, pôs tudo em pratos limpos: sorry, I’d rather fuck .

Crise

Acho que estou a entrar na crise da meia-idade , disse, fazendo-se apático e esperando conforto. Ela, que só abria a consciência quando soluçava e não reprimia um desabafo, tratou logo de lhe tirar o pão da boca. Desde que continues a pagar as contas, tudo bem .

Topos #1

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Topos #2

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"It was it" No. 4 [phototext by Sigmund Freud from "Psychopathologie of Everyday Life" with Neon "Description of the same content twice, It was it"; white neon letters and blue neon-line], 1986 Joseph Kosuth

Topos #3

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276. On Color, Violet , 1990 Joseph Kosuth

Antes a ICAR que as outras

Porquê? Um pecador – e não há quem não seja – definha, definha, definha. Até se abeirar do confessionário. Logo aí começa o remédio a trepar pelas pernas como formigueiro em véspera de fim-de-semana, mas quando o pecador então absolvido abala de lá, até parece que ganhou uma alma acabadinha de sair do forno. Quente e estaladiça por fora, fofinha por dentro. É por isso que a minha tia valdevina que um dia foi missionar para África e nunca mais ninguém lhe pôs a vista torta chamava aos católicos pãezinhos de Deus .

Tradutore sognatore

Merci bon Dieu, ma bite elle se porte comme un charme.* * Tradução mal amanhada para francês de: Obrigado Senhor, a minha verga nunca me deixa ficar mal.

Ciência popular

Se queres poupar uns dinheirinhos em check-ups puxa pelo escarro e examina-lhe a cor: escarro verdinho, estás no ponto; escarro vermelhinho, estás para conto.

Atirando o Barr(eir)o à parede

Tempos houve em que, com excepção do handsome Barreirinhas, quem não era do Barreiro não era nada. N' O Partido , claro está. A modo de aristocracia operária (oops!), ser do Barreiro é que era, na confiança, na hierarquia interna. Moral da história: o Barreiro já não é o que era. Para as núpcias imaginárias pouco interessa o facto de nunca ter sido assim tão homogéneo, monolítico. Nem na composição social nem no mais.

Desmistificação e efeitos perversos

Interrogo-me quanto à eficácia das desmistificações que põem todos os ovos no cesto de uma descredibilização ad homine frágil, inconsistente, isto é que se torna fácil contestar, desmontar, virar do avesso. Um exemplo? Um exemplo extremo. O De Hitler. Morto o ditador, não demorou muito a que circulasse, por obra e graça do KGB e mais tarde da Stasi, documentação forjada que comprovava a covardia de Hitler tanto na hora da morte como, décadas antes, na frente de batalha na Grande Guerra de 14-18. Pessoalmente coberto de vergonha, desonrado, simultaneamente docilizado e desmasculinizado (significativamente a cobardia, na linguagem popular, diz-se, melhor: faz-se falta de tomates ), o monstro não poderia voltar a ser objecto de culto, e muito menos de um culto similar ao que Staline, esse sim justificadamente, merecia. A ficção da pusilanimidade de Hitler serviu esse propósito? Não. Serviu, outrossim, para os revisionistas neo-nazis, estribando-se nessa fraude infantil e modificando/inv

Brevíssimo apólogo nocturno, ilustrado por Charles Ray #1

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Unpainted Sculpture , 1997 Charles Ray Era uma vez uma mulher que sonhava. Com o marido e um carro. O marido no carro. Desastre e decapitação. Acordou eufórica. A palavra carrapit o e a expressão nos canaviais assobiaram-lhe nos lábios. Chegou-lhe um som roufenho do lado. Ao mesmo tempo que engelhou, aguçou-se-lhe o engenho relacional: Ah, estás aí . FIM.

Brevíssimo apólogo nocturno, ilustrado por Charles Ray #2

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Family Romance [mixed media], 1992 Charles Ray Era uma vez uma família desmontável mas muito beguina. Um pai, uma mãe, um filho e uma filha. Após magna reunião familiar, decidiram que era melhor assim. Tudo ao léu. Desse modo não mais teriam de se esfarrapar a fazer pela vida. Para evitar complicações com os vizinhos e o código penal, chamaram ao seu costume aporia ontológica . FIM.

Brevíssimo apólogo nocturno, ilustrado por Charles Ray #3

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Aluminium Girl , 2003 Charles Ray Era uma vez um homem que se julgava desperto. Alguém vagamente familiar dizia-lhe: estás como novo , ao que ele respondia: sim, sinto-me um homem galvanizado . Aproveitando-se do entusiasmo, o outro, feiticeiro rodado, dava vida à letra. O processo corria mal. Alargava-lhe as ancas, crescia-lhe os peitos e subtraía-lhe os pendentes, surgindo, em seu lugar, uma brecha de geometria variável. No homem, curiosidade, nenhuma; apenas terror. Acordou, sobressaltado, ensopado em suor, aporrinhado, mas com uma entumecência de mijo à perna. Soltou um profundo suspiro de alívio. FIM.

Turpilóquios #2

Não é sem uma ponta de emoção nostálgica que informo que do meu histórico de injúrias proferidas, além da já (a)notada , entre outras constam: mitocôndria glicolítica, isótopo de molibdénio, prótido metanóide, quadrúpede dismórfico; braquicéfalo prognata, lepidóptero cuneiforme, escolitídeo cáustico, opusdeico, papa vírgulas tecnicamente estagnado, Exmo. Senhor Professor, Conselheiro de Estado, couto dos santos e, honra seja feita e verdade dita, filho da puta. Todas têm a sua história, às vezes mais do que uma, num caso inúmeras. Contá-las em vida? Veremos. É certo que a felicidade eterna está nas nossas mãos, mas ai de quem queira irradiá-la toda de uma vez.

Quasi modo

Volto hoje vez sem exemplo ao bombyx. Volto para divulgar uma série de posts que tinha em esboço para publicação no Lugar Comum . Como quem, não os querendo conservar em carteira, deles se livra, os defenestra à Sousa Cintra. Depois vou mesmo à vida , nesta altura sem a mais remota tenção de regressar um dia, tampouco à blogosfera. O bombyx, esse é já um não-lugar para mim.

Nota de saída (e reentrada, um dia)

Na gentileza e nos preitos, alguns bloggers entenderam a despedida como epitáfio do bombyx mori . Não é bem assim. Tinha o despovoamento à perna e preferi partir antes que ele me apanhasse o juízo. Resumindo, isto está para borboleta como se fosse urso no Inverno. Um voo hibernatório portanto. Pode correr mal, a intenção cair em saco roto, claro que sim. Com ou sem pirueta um dia voltarei aqui para contar como é . Entretanto, alieno(-me e vos – estão convidados) no Lugar Comum , com a Susana , o Lutz e o Luís , companhia feliz. A qualquer hora do dia ou da noite, assim Nosso Senhor me dê longevidade e economias bastantes. Que não venha contaminação. Voltar cá não implica sair de lá. Como diz a malta da bola quando a chateiam com a ordem moral do amor à camisola , estou de corpo e alma no Lugar Comum . À diferença, podem acreditar em mim. Não sou profissional (irrepreensível) disto.