Memento mori e um chá de camomila

Hoje sinto-me realizado. Após quase um ano de actividade interrupta, por fim alguém, sem tir-te nem guar-te, com todas as letras, manda-me à merda. Aguardava ansioso este momento apoteótico. Por aqui, na blogosfera, quem, d’homem para homem, nunca tiver sido intimado a dirigir-se a tal parte, a bem dizer incerta, não é ninguém, nem ave rara. Claro que teria preferido que o motivo fosse outro: bater no morto, atirar-se como gato a bofe, gáudio desmistificador a expensas daquelas fontes miraculosas (do milagre da multiplicação das falsidades), caro jpt? You should know better. Nem crítica séria merecem. Enfim, não se pode ter tudo. Com sua licença, saudá-lo-ei, pela inflamação privada, com uma pequena variação sem engenhos de edição:

Vá bardamerda, jpt.

Encerrado o capítulo da reciprocidade, dos salamaleques, um ponto de ordem. Precipita-se para uma divergência que não será assim tão profunda, jpt. Não sou propenso à idolatria nem a regimes de heróis. Não tenho nem nunca tive admiração incondicional pelo Che (nunca me seduziu a fragância nectárea que outros lhe quiseram emprestar), muito menos simpatia pela sua faceta iconoclasta. Tendo a encarar a iconografia bombarata do Che (produto da reapropriação capitalista que o transformou num bem de consumo como tantos outros) para sinalizar irreverência juvenil com sobrecenho, um pouco como o Lutz. Às vezes a lamentar a ignorância espigadoto-tonta que oculta. O que não faço nem quero fazer é, a contraponto, subsumir o Che no perfil maniqueísta do patife da pior espécie, fanático, visionário implacável, sanguinário, turvado pela quimera revolucionária, a sua famosa terceira via, e deslumbrado pela sua própria aura libertadora. Basta ter lido as suas memórias, o seu diário do desastre africano para perceber as qualidades reflexivas do Che. Não muito comuns e não só em intelectuais revolucionários. Creio em suma que é personagem que exige – exigência antes de mais humana, dado que pagou tudo o que fez com a vida – um outro tipo de abordagem. Mais elaborado, mais complexo, menos vergado a crispações, irritações, que inclinam ao sectarismo. O tipo de abordagem que, por exemplo, o João Pinto e Castro adopta.

Continuarei a lê-lo, no Ma-Schamba, com a mesma atenção crítica, jpt. Essa é a regra do nosso jogo.

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