Da série, Frases que impõem respeito [78]

É uma mulher muito interessante.

Cara leitora, minha boa amiga, se ouvir esta frase a fazer que sai da boca de fulano, beltrano & cicrano, isto é: de sujeito de saco cheio (ena, qu’isto começa ordinário a sério), sustenha a respiração e faça figas para que não lhe respeite. A frase mais não é que o apodo maneirinho com o qual a irmandade da pilinha encabulada pela civilização judaico-cristã, à falta de melhor predicado encefalofílico, arruma as mulheres – em concreto e de cada vez, certa mulher – na prateleira das inenarráveis. No regalar masculino, que eu gostaria de dizer que é falocêntrico mas, chamando os bois pelos nomes, tenho de reconhecer que é mesmo do caralho, o que torna uma mulher verdadeiramente interessante não tem nada mas rigorosamente nada a ver com ser interessante. Cara leitora, minha boa amiga, não se preste à situação, fuja de ser crismada interessante como o vampiro da luz natural ou um dummy dum crash test do Cronenberg. Mal por mal, antes loura lerda, estupor retinto ou boa amiga. Não acredita, suscita-lhe revolta, um indignado: não posso crer, acha que a raça dos homens não pode ser assim tão taralhoca, langorosa, rapioqueira? Então espreite o Tiago e o Miguel, e depois veja se nas doze horas seguintes é capaz de fabulizar coisas bonitas – um bocadinho xaroposas mas bonitas – acerca das andorinhas, da Primavera, da sedução, dos sentimentos, das emoções, dos afectos, da paixão, do amor. Quanto a nós, talvez possamos fazer uma terapia juntos, desde que não me peça para renegar a raça, que eu ainda tenho muito para dar ao país.

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