Economia e mito(mania)

Para objectar a esta redução instrumental do Pacheco Pereira (o perfil de Cavaco rebate por contraste implícito), faço minhas as palavras do primeiro oficial no Diário da República, reforçando-as com duas notas avulsas, mas longas, sobre a putativa excepcional acuidade de Cavaco Silva para os problemas da economia:
1. Cavaco Silva foi Ministro das Finanças do Governo provavelmente mais irresponsável de 1975 para cá. Um Executivo – o primeiro da AD, o tal que teve como cabeça de cartaz Sá Carneiro – que (des)governou com o único e exclusivo propósito de assegurar que, um ano depois, nas legislativas de 80, manteria o poder com maioria absoluta no Parlamento. Com as finanças públicas em estado deplorável, não hesitou em aumentar os salários dos funcionários públicos acima da inflação, propagandear que os maus tempos já lá iam, ao mesmo tempo que, a partir desse impulso artificial, fazia descarada auto-apologia da sua valia governativa. Clara e sucintamente: Cavaco foi cúmplice desse embuste, e sendo-o, esteve-se a marimbar para a economia.
2. Cavaco Silva mais tarde exerceu as funções de Primeiro-Ministro dez anos seguidos, oito deles sem necessidade de acordos parlamentares ou outros. Sabe-se hoje que muitos dos problemas de aumento imparável e progressivamente crescente da massa salarial global da função pública radicam na estruturação de carreiras que foi esquissada no seu consulado. Sabe-se hoje que a política de investimento público dos seus sucessivos Governos, miopemente centrada no betão e nas redes viárias, apenas serviu para, de modo temporário, criar a ilusão, através de indicadores sofríveis e com valor essencialmente político como o PIB, da transformação da estrutura produtiva nacional. Sabe-se hoje que a engenharia jurídico-legal que permitiu às autarquias endividarem-se a níveis em muitos casos de insolvência, foi desenhada no período de governação de Cavaco Silva, com total passividade (ou seja: concordância tácita) desta. Deste segundo momentum, serei mais prudente a concluir. Talvez Cavaco Silva não se tenha estado a borrifar para a economia. Talvez tenha pura e simplesmente revelado uma total e completa inépcia enquanto profissional da economia.
Cavaco é óptimo, excelente até. Mas não na economia; outrossim no jogo político. Entrou e saiu de cena nos momentos exactos; nunca arriscou perder a face. Haverá competência mais política, no sentido mesquinho do termo, que esta? É ao arquétipo do jacobino que remimos? Então o principal troubadour é Cavaco Silva.

Comentários

Anónimo disse…
Diria mais. Aplicando um pouco de lógica matemática, temos que:
1- Dados do problema
Cavaco Silva em Portugal
Filipe Gonzalez em Espanha
2- Resultados apos 20 anos de UE e 10 de governos respectivos
Espanha nos pincaros
Portugal na lama

e ainda me falam do Sr Cavaco com nostalgia?
disse e mantenho, desde a primeira tentativa do personagem: se essa abécula chegar a Presidente, eu mudo de pais. Antes espanhol do que representado por um coitado.

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