Necrofagia

Há algum tempo que deixei de visitar regularmente o Barnabé. Do que por lá se escreve pouco me prende à leitura. A nova (velha agora?) composição, mais heterogénea, revelou-se demasiado desequilibrada. Até as polémicas internas pareceram sempre artificiais, sem chama, sem substância, coisa de galispos. Esta última é bom exemplo disso, embora a crise secessiva dela resultante seja, não questiono, bem real.
Estará o Barnabé na ronda do último suspiro, a aguardar que uma comissão liquidatária tome posse ou não passará tudo de um arrufo familiar, quiçá com efeitos catárticos? Não faço a mínima ideia, nem quero especular sobre assuntos que apenas dizem respeito aos próprios, muito menos fazer rábulas de médico e passar atestados de óbito. Sou todavia sincero: nesta fase é-me bastante indiferente o destino do Barnabé.
O que não me deixa indiferente são os exercícios humorísticos sobre as acontecências no Barnabé com recurso a chacota. Em particular, é fácil, muito fácil deitar as unhas ao Bruno Cardoso Reis – que não conheço de lado nenhum e cuja prosa não me seduz – que, injustamente, se arrisca a ficar na história do Barnabé como o mau da fita, o verdugo que ainda por cima, qual cangalheiro, andou a comprar os cravos para o ataúde. Está numa posição frágil, na defensiva, pelos vistos de saída, o que torna compreensível alguma menor lucidez e capacidade de argumentar. Tirar partido disso, explorar as tartamudeias da sua escrita nesta altura, enquanto se alardeia folgança, é triste e escusado.
Reparo por fim que não me oponho tout court a que se faça do estado actual do Barnabé objecto de humor. Não é isso. Oponho-me apenas a que esse humor derrape para chocarrice. Não é impossível fazer humor com a situação sem ceder à tentação da insídia (mesmo que seja lá no fundo inocente/inofensiva). Basta ir à Fonte ou ao Contra a Corrente para perceber isso.

Comentários

zazie disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse…
Assim, sim.

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